Chegaram as férias de junho! A Lenice e o Osmar, nossos amigos de São José do Rio Preto-SP nos convidaram para passar uns dias com eles e participar de uma aventura para conhecer a Serra da Canastra. Organizamos a viagem para partirmos no dia 18 pela manhã. Tomamos o ônibus e à noite chegamos a São José do Rio Preto-SP. Uma viagem cansativa, mas cheia de belas visões da paisagem dos estados do Paraná e São Paulo. Fomos recepcionados pelo Osmar e Lenice que sempre acolhedores nos instalaram em sua casa. Programamos a saída para Minas Gerais na manhã seguinte e antes que o sol raiasse, estávamos de pé para iniciarmos a jornada. Seria cerca de 4 horas de viagem até a cidade de Sacramento-MG, nossa porta de entrada do Parque Nacional da Serra da Canastra. Esta paisagem, formada pelo cerrado mineiro sempre despertou um interesse especial, pois como vivemos em uma região de mata atlântica, desconhecíamos este bioma que forma a maior parte do Brasil central.
O sol ia alto quando chegamos em Sacramento-MG. Foi inocência pensar que a portaria estaria perto, tal como ocorre com os demais parques que já havíamos visitado anteriormente. Tudo nesta região do Brasil é longe e a portaria 3, que iríamos passar, ficava a cerca 70 quilômetros da área urbana, em uma estrada de terra com muita poeira. A primeira impressão foi de que a região passa por uma falta de chuva crônica pois a vegetação estava seca e a terra sedenta por água. Diante disso, é possível compreender a falta de água pela qual passam os estados do sudeste. Segundo o que pesquisamos uma das principais características deste parque é o grande número de mananciais, inclusive a nascente do Rio São Francisco, o maior rio genuinamente nacional. A Canastra recebeu esse nome porque seu chapadão parece mesmo um baú e por isso, torna-se um divisor de águas de grandes bacias hidrográficas e formador de lindas paisagens e cascatas.
Durante o percurso até a portaria 3 pudemos observar bandos de Gralhas-do-campo e registrar alguns indivíduos que pousavam nas extensas plantações de pinus e eucaliptos que margeavam a estrada e Taperuçus-de-coleira-branca. Além disso, observamos Tucanos-toco. Passava do meio dia quando chegamos à entrada do parque. Posso dizer que foi uma cena que jamais será esquecida. Olhar aquela extensão de terra plana que tocava o céu até onde nossa visão alcançava. Tão diferente de uma floresta de topografia irregular, essa planura parecia não ter fim a não ser quando margeava os precipícios que se lançavam do alto. Fomos recepcionados por dois simpáticos guecos (lagartinhos) sobre o muro de pedra. Sobre a vegetação... encontramos o típico cerrado, com plantas de pequeno porte com predominância de imensos descampados preenchidos por espécies gramíneas. Esse é o lar de muitas espécies animais sendo que só de aves são registradas cerca de 300 espécies. Neste primeiro contato foi possível registrar algumas delas, como a Bandoleta, o Beija-flor-de-orelha-violeta, o Bico-de-pimenta, a Cigarra-do-campo, o Gavião-caboclo, a Corruira-do-campo, a Gralha-do-campo, o Galito, o Sabiá-do-campo, o Papagaio-galego, o Tapaculo-de-colarinho e a Cigarra-do-ampo. Entretanto, a maior emoção desde primeiro dia ficou por conta de um casal de magníficas Águias-cinzentas. Espécie muito ameaçada de extinção que se mostrou em toda sua majestade, dando um verdadeiro espetáculo.
Com o aproximar da noite, nos dirigimos à saída do Parque, em direção à comunidade de São João da Canastra-MG, onde poderíamos passar a noite. Só não contávamos encontrar o povoado em plena época de festa junina e como não havíamos feito reservas nas pousadas aí existentes, nossa opção foi rodar mais uns 40 quilômetros em direção à cidade de Tapira-MG e onde precavidamente nossos amigos haviam feito reservas em uma pousada. Posso dizer que a noite que nos pegou na estrada mostrou seu lado mais fascinante: o céu mais lindo que vi em toda minha vida. Nunca a via láctea se mostrou tão límpida, as constelações tão vivas e as estrelas mais brilhantes. Só por isso, toda a poeira (que não era pouca) poderia ser esquecida facilmente. O ponto negativo é que essa estrada, que está passando por reformas, é mal sinalizada, o que permite ao visitante que não a conhece perder-se facilmente. Foi o que aconteceu com dois casais vindos da região de Barretos, o Osvaldo e Gabriela e O José Carlos e Poliana. Os encontramos no meio do nada, perdidos e sem saber como sair daquele labirinto que haviam se metido desde as 9 horas da manhã. Estes colegas prepararam uma aventura, com motos e apetrechos de acampamento, postos em um reboque puxado por um carro de passeio, que atolava todo o tempo nas subidas íngremes forrados com terra fofa e solta. Foi num estado de puro desespero que eles se encontravam que paramos para ajuda-los. As moças muito nervosas faziam chorar e seus pares tentavam em vão tirá-los de lá. Resolvemos separar o grupo, ficando o Roberto e o Osmar dirigindo o carro deles e os rapazes com suas motos. As meninas ficaram no nosso carro. Na subida, o reboque afundava e fazia-se necessário empurrar, o que ocorreu mais de uma vez. Em meio a esse turbilhão de esforços para atingirmos Tapira, nos depararmos com uma visita curiosa: um Lobo-guará fêmea se mostrando por vários minutos e dando um verdadeiro show. Após esta epopeia, chegamos a Tapira e para a sorte de todos, nossos amigos encontraram um quarto para passar a noite. Eles resolveram fazer um churrasco para todos em frente ao hotel e assim comemorarmos o final feliz dessa jornada.