Quando posso, gosto de tirar retrato de passarinho. É... eu sei. É coisa de maluco. Achei que poderia ser uma boa idéia quando minha filha me pediu para levá-la a um sítio em São Joaquim de Bicas, não é longe de BH, para um final de semana com a turma da faculdade, onde fariam uma confraternização do final do curso.
Pensei com meus botões, inexistentes em minha camiseta:
“Levo a máquina, deixo ela lá rapidinho e volto com calma. Afinal, essas estradinhas de terra pouco movimentadas costumam ter uns bichos bem interessantes. Um bando de papagaios comendo sementes em uma cerca viva, um carrapateiro empoleirado em uma vaca, uma noivinha-branca se exibindo num fio de telefone, canarinhos amarelos em meio a bicos-de-papagaio vermelhos, seriemas (Giseles Bundchen das aves, como disse uma amiga virtual), quiriquiris tocaiando gafanhotos, pica-paus voando (desconfiados do vento, como disse o Guimarães). Sempre se acha alguma coisa para se divertir.”
De longe notamos um bando de urubus volteando sobre alguma coisa no pasto. Quando chegamos perto vimos uma árvore salpicada deles. Foi com certa má vontade que parei o carro quando minha filha falou:
– Bate uma foto, pai. Está lindo, não é sempre que se vê isso.
Urubu se vê a toda hora. Não são os bichos mais fotogênicos que há. Mas a árvore, toda pintadinha de preto, até que estava interessante mesmo.
Enquanto pego a máquina de retrato e tento me decidir se dou ré ou volto a pé para conseguir enquadrar a árvore inteira, minha filha diz:
– Pai, tem um pat
o na árvore. Pato sobe em árvore?
– Que pato, filha?
– Aquele lá, no meio das folhas.
De onde estava não dava para ver. Só quando o pato pulou para outro galho pude vê-lo. Não um pato. Um urubu alvinegro, atleticano ou botafoguense, sei lá. Mas era REI! Era um antigo sonho tornado realidade. A premonição de minha filha estava me dando um presente, a oportunidade há muito esperada. Ver um urubu-rei em liberdade. Reinando sobre o bando dos outros urubus. Uma oportunidade rara, uma maravilha! Emocionante!
Desconfiado, ele não ficou muito tempo. Sempre meio escondido pelos galhos e folhas até levantar vôo e dar uma rodeada para nos examinar melhor, ou para exibir sua beleza ímpar, tanto faz. Acabei tirando retrato do pato mais bonito que já vi.