Sempre comentamos que a saída da cidade fornece descobertas interessantes. Nosso destino neste fim-de-semana foi o litoral. O encontro da mata atlântica com o mar. O encontro das aves marinhas com as aves da floresta. Para esse encontro, saímos cedo de Curitiba e tínhamos muitos planos para o período, dentre eles, o de encontrar algumas espécies que já haviam sido registradas em Guaratuba. A expectativa era encontrar o bicudinho do brejo, o pula-pula, o aracuã, a choca-da-mata e tantos outros. O clima que se apresentou ensolarado durante a semana, mudou repentinamente na sexta-feira, fazendo cair um dilúvio sobre Curitiba e certamente sobre toda a região litorânea do estado. A apreensão tomou lugar da expectativa e víamos mais uma vez nossos planos de fotografar à luz do sol ir se esvaindo. Amanheceu o sábado e a chuva da noite deu lugar ao tempo nublado, o que não nos intimidou pois a previsão do tempo relatava aberturas de sol e tempo bom no domingo. Pé na estrada, descemos a serra e ganhamos o litoral. A viagem foi rápida e apenas separamos o tempo de descarregar o material e iniciar a passarinhada. Em alguns pontos já conhecidos começamos a empreitada. Uma passada na orla e já encontramos nossos primeiros pássaros: as batuíras de bando que alimentavam-se com os crustáceos na areia e no alto, voando soberano, o tesourão planava ao sabor do vento. Nos dirigimos ao local conhecido como bica-da-santa, uma nascente de água que desce cristalina do morro coberto de exuberante vegetação. A passarada pipocava por todos os lados e foi possível avistar tucanos de bico verde, as cambacicas, os ferro-velhos e gaturamos. Ficamos encantados com tamanha diversidade que decidimos continuar a exploração após o rápido almoço. A área escolhida dessa vez foi os arredores do ferry boat. Não imaginamos que encontraríamos tamanha variedade de exemplares, de cara, um coleirinha nos recepcionou com seu banho nas poças que se formara com a chuva do dia anterior. Todo molhado ele pousou em um ramo próximo se exibindo graciosamente enquanto o sol secava suas penas... ao lado, os bem-te-vis, joões-de-barro, sabiás, canários e pardais faziam a festa. Um pouco adiante, beija-flores se regalavam nas flores que lhes forneciam néctar e para nossa surpresa, uma ave se movia silenciosamente na ramagem fechada. Ela estava lá, se escondendo, mas conseguimos registrá-la e para nossa admiração, não se tratava de um, mas três indivíduos... belos e lindos aracuãs. Na pequena baía adjacente, uma garça-morena remexia o lodo com seu longo bico procurando comida e alguns martins-pescadores planavam sobre a água pescando e disputando espaço entre eles.
Vizinho ao capão muitas casas exibiam jardins floridos onde pássaros encontravam alimento nos comedouros que os moradores instalavam. Numa dessas, as garrafas que alimentavam os beija-flores eram visitadas por muitas cambacicas que sem se importarem com nossa presença atacavam ferozmente os bebedouros cheios de água açucarada; era quase possível tocá-los!!
Finalizando a tarde, a última parada foi a praia da Caieira. Lá esperávamos encontrar aves que são companhia dos pescadores e fomos agraciados com a presença dos gaivotões que esperavam os peixes deixados na praia pelos pescadores que retornavam da lida no mar.
Manhã de domingo... O sol brilhou forte. Finalmente esperávamos que os pássaros iriam aparecer em maior número e em variedades. Os lugares foram os mesmos, entretanto, somente na manhã cedinho pudemos registrar o ferro-velho na bica-da-santa. Como o sol já ia alto, fomos passarinhar no ecossistema de mangue e até encontrarmos uma entrada em que pudéssemos acessar para fotografar, muito tempo se passou, mas certamente compensou pelo encontro com o savacu-coroado que se escondia nas ramagens das plantas do manguezal. Já passava do meio-dia e decidimos encerrar a lida da manhã retornando à bica-da-santa e registrar as demais espécies que freqüentavam o local, porém nenhuma delas apareceu. Decidimos deixar tudo para o período da tarde, onde as temperaturas mais amenas da meia tarde em diante faria com que nossos amigos aparecessem... No ferry-boat a garça continuava à sua busca de alimento e o indeditismo ficou à cargo de uma sabiá-poca que se escondia nos ramos de uma castanheira-da-praia. O por do sol nesse local proporcionou um dos mais belos espetáculos, pois ao longe, na ilha dos ratos, os biguás chegavam para buscar abrigo para a noite que já se anunciava. Os últimos raios do sol batendo nas águas e nas árvores faziam com que as cores se esmaecessem num último suspiro vibrante da vida que se recolhia. Quanto bicudinho-do-brejo e o pula-pula, bem esses ficam para uma próxima passarinhada!