Sair da cidade muitas vezes traz grandes descobertas e estar perto das extensas florestas sempre proporcionou um contato mais próximo das aves que as habitam. Conforme temos relatado, nossos principais registros vem aqui mesmo da cidade, dos parques, tão ricos
Esse encontro anunciava o que iríamos encontrar mais adiante. Rumar de encontro ao litoral é estimular os sentidos, fazer da visão e da audição sentidos principais uma vez que rápidas olhadas pela janela denunciavam a presença dos nossos amigos alados a todo momento. Isso por si só era uma alegria. Já em Guaraqueçaba onde paramos em um acolhedor restaurante à beira do rio para almoçar, fizemos um registro promovido pelo olhar agudo do Roberto. Uma ave pousada serena no galho de uma árvore desfrutava dos últimos raios do sol, antes da tempestade que se anunciava. Mais que rapidamente, fizemos o registro e identificamos a ave como uma viúva. A sorte mais uma vez sorria para nós. Porém, a tempestade chegou com força e a chuva, intermitente. Parecia que o restante do trajeto seria mesmo sob chuva forte e isso se confirmou. Chegamos à chácara em baixo de chuva. Montamos o acampamento na casa-sede e ai ficamos, torcendo para que a chuva passasse e desse lugar ao tempo bom. Passou o tempo, chegou a noite e com ela nada de parar a chuva. Parecia mesmo que os céus tinham se aberto e resolvera chover o que não havia chovido em um mês. Restava somente esperar e acreditar na sabedoria do Kleber que conhecendo o clima local, afirmava que quanto mais chovesse naquele instante, melhor seria, pois no dia seguinte o sol apareceria. Acreditamos, jantamos, conversamos, rimos e depois disso, sobrou a escuridão da noite e o cansaço da viagem que bateu forte. Assim dormimos e sonhamos com o dia de sol que se faria a seguir. Veio a madrugada e a ansiedade fez com que acordássemos muito cedo, com os primeiros indícios de claridade.
A chuva do dia anterior, por milagre se fora deixando um tempo acinzentado... luz difícil de usar para fotografar. Os pássaros, esses sim acordaram com a aurora fazendo barulho, fazendo parecer que todos haviam se juntado em torno da casa só para atiçar nossa curiosidade. Nessa penumbra, ainda não era possível saber quem se apresentava, mas sabíamos que não eram poucos e que eram diversas espécies. Praticamente todas desconhecidas nossas. E o dia foi abrindo, abrindo e o sol apareceu, tal qual o Kleber havia previsto. O que víamos era puro encantamento. Uma imagem digna de uma National Geographic. A beleza das serras circundantes, do sol entrando em todos os cantos, da bruma que se abria, deixando o calor entrar e secar o que havia sido lavado com a chuva do dia anterior, das árvores da floresta de onde surgiam bandos de aves de todas as cores. Começamos nossos registros em um conjunto de flores nas quais os beija-flores disputavam territórios. Aí encontramos espécies que até então não havíamos ainda encontrado em Curitiba e outras que não conseguimos registrar. Em um pequeno espaço nunca vimos tanta vida pipocando. Outros bandos surgiam à todo momento... saíras-militares, tiês-galo, tiês-pretos, cambacicas, tirivas... todos com um colorido ímpar, comportamento amistoso, pois desfrutam da liberdade onde a mão do homem não os agride. Muitos registros foram obtidos aí e outros tantos ainda estão por fazer. Lamentavelmente, o tempo foi pouco e já estava na hora de retornar, mas sabemos que logo estaremos lá novamente para conhecer um pouco mais das aves daquele abençoado lugar, que temos a certeza, é um paraíso para os observadores de aves e amantes da natureza.